13 fevereiro 2009

Capa: A Árvore do Amor, de José Batista


Abelha Rainha

Faz a cama, ajeita o travesseiro
abre a janela do quarto
no pensamento a novela da noite
e vai já pensando no almoço

Esfrega o chão da cozinha
os joelhos bem vincados
e arruma a loiça já lavada
quando a neta Rita reclama
a esfregar os olhos, a chamar
com o cu sentado na cama

Tem a roupa para lavar
alguma outra a estender
e mais ainda para vincar
liga o ferro, aquece o leite
a Ritinha no braço sentada

Lava a sala toda inteira
tira o pó do espelho
dá a volta na janela
mete a mesa, assa o peixe
e chega atrasada ao almoço

Já tem mais loiça para lavar
e tem a netinha para deitar
já lhe deu toda a papinha
mudou a fralda, pôs o creme
leva um sorriso no olhar
e vai tratar da cozinha

Levanta a toalha, guarda a toalha
arruma a loiça
tira do chão os miolos do pão
ajeita o "napron" de renda herdado
o que lhe traz à memória o passado
a imagem da sua mãe, ainda há pouco levada

Senta um bocadinho a descansar
e pensa na vida, mas vem-lhe à cabeça o jantar
pensa no filho, pensa na filha
e também no neto Tomás:
"Ora, ontem comemos pescada
e também perna de porco assada,
logo à noite farei bacalhau
ou será melhor sopa de feijão?"

Acabou por ser bacalhau com grão
antes esfregou os azulejos
desinfectou a sanita
quando acorda da sesta a neta Rita
é a alegria que volta
muitos beijinhos há-de dar
prepara a papa, põe a mesa
e ajeita bem a cadeirinha
não vá ela cair

Chega o seu homem para jantar
cansado
mais um longo dia de trabalho passado
mas ainda um sorriso lhe traz
já ao fim de tantos anos

Só falta lavar e arrumar
toda a loiça do jantar
não fora o resto da roupa para passar
faltam 4 ou 5 peças,
e há ainda que regar as flores
que é já hora de ir deitar
porque amanhã é de novo dia
da Abelha Rainha.

7 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite
Esta "abelha rainha", mais parece uma obreira, já que na sociedade das abelhas, a rainha não trabalha;
É ela quem comanda o enxame, quem copula com o macho (apesar de o matar após a cópula) e dela são filhas todas as novas obreiras e futuras rainhas.
Às obreiras cabe o papel de arranjar alimento, limpar a colmeia, proteger a rainha e cuidar das filhas dela. Vidinha dura, não???

Anónimo disse...

Bom dia
Tem toda a razão em assinalar uma certa contradição entre o título e o conteúdo do poema.
É engraçado lembrar essa história aqui: Quando esse poema me chegou tinha acabado de ouvir uma canção da Bethânia em que ela fala da "Abelha Rainha". Decerto, lembra-se da canção. O poema saiu de enxurrada, tipo a água que brota da cascata, e só poderia ter esse nome.
Esta "Abelha Rainha" é dedicado à minha Santa Mãe e a todas as Mães do mundo ou, de outra maneira, à Mãe de todos nós.

Outra coisa,
Gostava muito de ouvir alguém falar sobre as Abelhas e sobre os produtos que se obtêm a partir da sua laboriosa azáfama (mel, própolis, etc.). Tenho uma história curiosa que relaciona os ditos produtos e o nome deste blogue. Será que o amigo está disponível para uma conversa sobre o tema?

Anónimo disse...

Bom dia
Antes de mais, quero dizer que, o poema é lindo. Ele personifica a mãe de todos nós, isto é, todos nós revemos a nossa mãe nele.
Em relação às abelhas, não percebo grande coisa do assunto. Tudo o que sei se confina à sociedade, hierarquias, acasalamento etc...das mesmas, numa vertente da etologia , nada mais.

Anónimo disse...

Bem, veremos se aparece alguém que saiba dissertar sobre o assunto. Agora que ele surgiu de novo tentaremos não o deixar sumir sem mais. Por acaso conhece alguém que domine suficientemente o tema para falar um pouco sobre ele?

Anónimo disse...

Não, não conheço.

Anónimo disse...

Veremos se o caso tem outros desenvolvimentos... Obrigado.

Anónimo disse...

obrigada