ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DA LÍNGUA (AGAL)
(...)
Agradeço que esclareças a quem puder interessar: AGAL é Associação Galega da Língua, uma entidade cultural nascida em 1982. A sua página web é www.agal-gz.org Dedicam-se a cumprir os estatutos associativos: publicações de literatura e estudos linguísticos; aulas de língua, etc. Têm também uma boa revista trimestral de cultura, Agália, editada desde 1985 e que já está no número 80. O caso da AGAL é também o da Associação de Amizade Galiza-Portugal, criada em 1980, e da que sou secretário. Outras entidades são as Irmandades da Fala da Galiza e Portugal, com 3 revistas activas e mais de 50 publicações em português da Galiza. Podemos acrescentar outros nomes de entidades associativas mais recentes, como: Movimento Defesa da Língua, que não realiza publicações mas são muito activos na dinamização cultural; Fundação Artábria (Ferrol), do mesmo teor que a anterior mas com local próprio e biblioteca; Gentalha do Pichel (Santiago) e outras em Vigo, Lugo e Ourense. Outras associações abrirão locais nos próximos meses e anos. Contra todos os impedimentos, apesar de não recebermos ajudas públicas e sermos acossados pela imprensa espanhola e as autoridades políticas, o movimento lusófono galego está em crescimento constante.
Qual é o denominador comum destas entidades, totalmente legais? O facto de não aceitarmos a castelhanização da Galiza e do galego. Por isto nos dedicamos a estudar, promover e utilizar o português padrão ou uma norma linguística semelhante. Quer dizer, nós propomos o português como língua nacional da Galiza, e não aceitamos descontos, promoções nem meias tintas. Este movimento cultural está integrado por um grande número de professores universitários e mesmo alguns catedráticos, como Ramom López Suevos (prof. da Faculdade de Economia da Univ. de Santiago) ou Maria do Carmo Henriques (prof. na Univ. de Vigo). O grupo mais numeroso é o dos estudantes, a juventude em geral. Ninguém é excluído em função da ideologia política. Por exemplo, na AGAL há militantes do BNG, do PSOE, autonomistas e mesmo de grupos independentistas. Estes últimos são muito minoritários dentro das associações culturais. Talvez sejam só 30 pessoas, ou menos.
É evidente que a nossa proposta cultural tem implicações políticas, mas todas estas associações têm grande cuidado em não aderir a nenhuma ideologia concreta procurando manter, quanto possível, boas relações com todos os partidos políticos. Existe um grande interesse da parte do estado espanhol e de alguns elementos da comunicação social em associar o movimento cultural lusófono ao radicalismo independentista e, mais concretamente, com uma minoria violenta que em 25 de Julho (oficialmente esse é o Dia Nacional da Galiza) atentaram contra o balcão principal da Caixa Galicia de Santiago. Qualquer pessoa que tenha contacto pessoal com membros destas associações culturais citadas sabe que condenamos totalmente os métodos terroristas, e nisto sempre fomos taxativos, categóricos.
Os 2 bombistas do 25 de Julho foram apanhados aos poucos minutos da explosão, que só causou danos materiais. Esse atentado e algum vandalismo produzido no mobiliário urbano parecia ser o principal argumento para a operação policial de 14 de Novembro. Nesse dia 10 cidadãos foram levados pela polícia espanhola a dependências de Madrid. Os factos demonstram que essa operação, chamada "Operación Castiñeira" não era policial, mas política. Carecia totalmente de justificação e ficou agravada pela enorme desproporção entre os meios utilizados e a "ameaça" existente. Os 10 presos ficaram livres aos três dias: simplesmente porque não havia provas nem coisa semelhante. A operação policial foi ordenada por um juiz da "Audiencia Nacional", verdadeiro tribunal de excepção. Pretenderam com isso criminalizar não só todos os independentistas, agrupados sob as siglas de AMI (Assembleia da Mocidade Independentista), mas também as associações culturais lusófonas, pois registaram os locais de três destas entidades, cujo único delito é utilizarem e defenderem o português da Galiza. A coisa é tão clara que mesmo num jornal da direita espanhola, El Correo Gallego, www.elcorreogallego.es, muito próximo do P.P. e editado em Santiago de Compostela, dedica grandes críticas à operação policial. Hoje, um colunista, Carlos Luís Rodríguez, afirma tratar-se de uma operação contra os direitos civis dos 10 cidadãos e pergunta como a polícia e o juiz que ordenou a operação vai compensar aos 10 cidadãos injuriados, como vai devolver-lhes a honra.
Reproduzo um parágrafo do seu artigo de hoje, na página 2: «Esto es mucho más que una equivocación. Los que ahora han quedado en libertad sin cargos, fueron presentados como alumnos de ETA, y detenidos con un despliegue similar al que se utiliza para desarticular comandos terroristas. La distancia entre el principio y el final es tan grande, y el plazo tan breve, que sólo cabe la hipótesis, tremenda, de que la frivolidad se ha instalado en importantes poderes del Estado. Tan grave es poner en la calle a violentos amateur capaces de dar el paso al terrorismo sénior, como capturar sin más a unos ciudadanos a los que después no se puede acusar de nada. Lo primero es un atendado a la seguridad; lo segundo, un insulto inasmisible a las libertades civiles»
Os detalhes da operação "Castiñeira" são arrepiantes, pois previamente vários juízes da Galiza se negaram a ordená-la, por excessiva e injustificada. O mesmo El Correo Gallego, que sempre defende a polícia espanhola, reproduz a queixa de elementos da "Guardia Civil" pelo ridículo da "Operación Castaña", que deixa em mal lugar a imagem desse corpo policial.
É triste ter que demonstrar que os lusófonos galegos não temos rabo nem comemos meninhos, mas estas são as regras do jogo: com certa frequência, o estado espanhol dedica-se a intoxicar e perseguir os cidadãos insubmissos à castelhanização obrigatória, e nós somos obrigados a demonstrar que somos pessoas normais. Depois queixam-se porque cresce o independentismo na Galiza.
Grato pela atenção,
Ângelo Cristóvão
19 novembro 2005
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