11 maio 2006

Banalidades Desprezadas

(...)
Não nos submetermos à rotina dos dias apenas nos exige que vivamos de propósito. Para viver de propósito é necessário que nos perguntemos todos os dias: será que gastei bem os meus vinte e quatro talentos de ontem? que vou fazer com os que tenho para hoje?
Mas não vale a pena lamentar os desperdícios; o tempo passado não se recupera, a única utilidade que pode ter é servir-nos de aviso para aquilo que não queremos para o único tempo que existe: o presente. Também não vale a pena atormentarmo-nos com o amanhã; o amanhã começa precisamente na acção de cada dia.
Não vale a pena termo-nos em muito boa conta, nem vale a pena o contrário. No primeiro caso, enganamo-nos a entender o mundo, pensando que ele gira à nossa volta, que o nosso umbigo é o umbigo do mundo; no segundo caso, a severidade com que nos julguemos é uma ameaça ainda maior para aqueles com quem nos relacionemos.
O grande mal do mundo é a ignorância que temos dele e essa ignorância começa na que temos de nós próprios.
Por nos ignorarmos, procuramos corresponder a padrões que nos são exteriores, imitamos «o que está a dar», auto-iludimo-nos e somos estrangeiros para nós próprios. Esta auto-clonagem e abastardamento do ser por fusão com a aparência leva-nos a não perceber que a riqueza do mundo está na diferença, na pluralidade; não na uniformidade, na unicidade, na indiferenciação. E a lepra polírtica e social da contrafacção em uso a que chamam democracia contribui para essa confusão, tornando-nos a todos seres apagados, indiferentes e egoistas.
Se jurássemos e cumprissemos ser fiés inabaláveis a nós próprios, no momento em que todos o fôssemos o mundo mudava. Porque não nos cumprimos, o mundo não se cumpre, ou antes, cumpre-se como imundo.

Pax Profundis
Abdul Cadre

PS:
E não nos esqueçamos: todos os tiranos sem excepção, por mais cruéis que possam parecer, são sempre inocentes; todos os escravos e todas as presumidas vítimas são culpados, relapsos e incorrigíveis. Os tiranos cumprem-se e lucram com isso; os outros contribuem para que os primeiros se cumpram e nada lucram.


dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br

1 comentário:

cidadao disse...

Convido todos a vir a Pinhal dos Frades fotografar, há cá uma àguia e não é a "Vitória", há raposas, cobras e lagartos, muitas aves, há cegonhas, também coelhos selvagens, fuinhas e salamandras... mas venham depressa esta é uma zona verde protegida no PDM do Seixal que a Câmara contra a população está a querer betonizar. www.pinhalfrades.blogspot.com