Olhas-me nos olhos e eu fico sem graça. As palavras que me dizes, sem falares, atordoam-me sempre que me olhas, assim, nos olhos.
Os teus amigos pulam à nossa volta, riem com os seus imaculados dentes brancos, perseguem uma bola rota estrada acima, galhofam com o malai.
Mas tu olhas-me nos olhos e eu fico sem graça. És linda, pequena ternura de Baucau! És linda! Não sei o teu nome, tampouco conheço a tua voz. Sei apenas que o vermelho no teu braço não é sangue, que os tempos agora são outros.
Imagino que tenhas uma fé inabalável no futuro do teu país, que sejas tão pobre como o resto do teu povo, que anseies por um Timor-Leste próspero e sem armas. Talvez sonhes até ser mulher estudada, mãe de muitos olhos negros, feliz.
Um dia hei-de voltar, ternura, nem que velho e cansado esteja, à tua aldeia feita cidade. Hei-de sorrir ao ver esses caracóis esvoaçarem ao vento, soltos e livres. Hei-de cruzar-me contigo nessa ladeira, encontrar-te mulher estudada, mãe de muitos olhos negros, feliz. E hei-de saber que és tu, porque um olhar assim não se esquece.
Fonte
Olhares de um Andarilho Fotografias de viagem com histórias. Reais ou adocicadas. Os olhares de um andarilho pelo mundo, numa viagem sem fim à vista
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30 maio 2006
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