24 junho 2006

O Óbvio

do Brasil, Francisco G. de Amorim

O ÓBVIO

Fui há dias presenteado com um DVD. Parece coisa já não tão normal nos tempos em que o império MP3 e do iPod se vai impondo, à espera que outro equipamento ainda menor e de multiplicada capacidade os ultrapasse. Mas este DVD é especial. Não tem sexo, sugere algumas cenas de triste memória e violência, mas o que nos dá é uma forte lição de vida: “Agostinho da Silva - Um pensamento vivo”.


O DVD conta um pouco do que foi a trajetória de vida de um Homem espantosamente culto, espantosamente simples, de pensamento sempre elevado e sempre voltado para o bem do próximo.

Mostra-nos ainda alguns trechos de entrevistas que, já no fim da vida, concedeu a diversos programas de televisão, e muitas opiniões e manifestações de carinho por inúmeros daqueles que tiveram a ventura de o conhecer.

Toda a sua vida foi uma constante quase utópica, não fossem os resultados profundos que alcançou, sobretudo no Brasil, na criação de universidades e do famoso Centro de Estudos Afro Orientais na Bahia.

Quem se podia ter alcandorado a uma vida cheia de honrarias e dignidades acadêmicas, viveu sempre com uma modéstia franciscana, desprezando o dinheiro pelo dinheiro e procurando levar o seu apoio, o ensino, a cultura, até aos mais humildes.

São sensacionais algumas das suas respostas a perguntas que por vezes lhe fizeram durante as entrevistas. Pela simplicidade e clareza com que abordava alguns aspetos, sobretudos místicos, que os entrevistadores insistiam em fazer-lhe, fica bem claro o quanto é grande um pensamento simples. E nisso Agostinho da Silva foi um Grande Mestre.

Ensinou desafiando os alunos a raciocinarem, quase maltratou, se disso fosse capaz, aqueles que queriam seguir o Mestre, mostrando-lhes que cada um deve seguir somente a si próprio, ultrapassou todas as barreiras burocráticas que se lhe deparavam, e com a clareza duma criança resolvia os problemas mais difíceis que se iam surgindo.

Quando lhe perguntam o que pensa sobre a morte, responde de forma quase cômica, não fosse a evidência do raciocínio: “como podia falar da morte se ainda não tinha morrido! Depois de morrer poderia então, se houvesse um meio, mandar a sua opinião”!

Este pequeno texto não pretende ser nem biográfico nem crítico ao presente que recebi. Mas depois de ter lido já uns quantos livros do Professor, este DVD, que o mostra com toda a naturalidade, levou-me a confirmar o modo como se pode “ver” o seu pensamento e se pode definir com uma só e simples palavra.

Agostinho da Silva, sempre desprendido de preconceitos e longe de submissões, foi o ÓBVIO !

20 jun. 06

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