De manga comprida saio para a rua. O céu está limpo e o sol brilha, trazendo ao dia um ar alegre, aberto, onde tudo brilha com ele, mas uma brisa que vem descendo do norte faz sentir os seus efeitos. É uma massa de ar invísível que vem lá do lado do Ártico, nos envolve e nos abraça, e transforma a sensação de sufoco dos últimos dias, numa reconfortante fresquidão que nos anima e enrija os ossos. Aos poucos vai-se instalando, mas ninguém lhe dá grande importância que a mecanização da vida não deixa. Só a informação meteorológica. Todavia, há quem a apalpe, quem fale com ela, quem lhe peça notícias dos pinguis, dos ursos polares do casaco branco, da diminuição da água gelada, do cada vez maior desprendimento dos "icebergs", do sol da meia noite, ou da lua do meio dia.
Caminho pela rua e apanho o autocarro número 44, embora o lugar onde vivo não tenha autocarros. Sigo-o, cheio de mim, e viro na primeira esquina à direita, depois de ter exitado virar à esquerda, e fico com a sensação de que esta simples decisão pode mudar completamente o meu destino. Mas estou convicto que é este o caminho a seguir e que boas notícias, ou bons encontros, se aproximam.
Prescuto os desenhos que as nuvens fazem no céu, estou atento a todos os bateres de asa e dou a máxima atenção a quem me vai cruzando o caminho. Tudo sempre cheio de pleno significado e como se fosse a última vez. Tudo pleno de um eterno momento.
De repente um anjo. Ou, pelo menos, uma cara de anjo. Louro, rabo de cavalo, ar de quem anda sempre em viagem, trás uma criança agarrada às pernas que se enrola e se enrosca como se dissesse repetidamente que não queria ficar mais nenhuma vez sem ele. Mas o vian-dante não sabe traçar outro futuro que não o próximo lugar que o futuro lhe trás. Há gente assim. E parte outra vez.
Fica a sensação enorme de me ter cruzado com um anjo. A sensação de como num simples gesto se pode esmagar uma tempestade. Que bom, ainda há quem saiba voar. E não é preciso muito. Basta sentar, fechar os olhos, corpo estendido ao comprido, pernas unidas, braços abertos e contar até oito quando se inspira e contar até quatro quando se expira. E depois pronto, é só olhar para a paisagem, disse ele.
18 setembro 2006
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