21 setembro 2006

O Estado da Arte 4

Pronto, está consumado o Verão. Ainda faltam dois dias, mas definitivamente o Dom Outono fez-se anunciar. E não foi de modas, para evitar que, distraídos, ignorássemos a sua presença mandou o "Gordon", um Furacão de grau 1 que fez questão de cruzar todo o território português. Passeou-se primeiro pelo Arquipélago dos Açores e, depois, derrapando à direita entrou pelo norte da Península Ibérica e foi descendo até ao sul do país, onde chegou já sem forças.

Vestido de ventos e chuvas fortes foi perdendo a intensidade pelo caminho. Nos Açores prometiam as rádios e televisões rajadas de vento na ordem dos 175 Km por hora, deixando as pessoas a fazer horas extrordinários, tentando por todos os meios precaver indesejáveis acidentes.

Na televisão viram-se choros, medos e ranger de dentes. Angústias, depressões e ataques cardíacos. Mas não, afinal, o vento não andou a mais de 115 Km/h, frustrando as expectativas dos "câmera men", dos chefes de redacção e os pivots dos programas noticiosos, pondo fim a um drama que não passou de um cenário por eles mesmo criado.

Enfim, foi mais um filme de acção em que foi metida a Nação, no já habitual chá das oito servido pelas antenas nacionais que prestam um rigoroso e profissional serviço informativo, e com tamanha formalidade que até eles acreditam que a realidade não é mais do que uma ficção.

Chego à porta de casa já sem chuva, mas com suficiente carrego para levar até ao 3º andar que peço à Maria da Luz, três anos de idade, para levar as chupetas e o casaquito de malha que já sobravam.

Ao chegarmos lá acima pergunta ela:
- Pai, pediste-me para trazer o casaco porque vinhas já muito carregado não foi?
- Exactamente, respondi-lhe.
- Deixa lá, escusas de agradecer.

É por estas e por outras que nós achamos que deveriam ser as crianças os imperadores do mundo. Ou, fazendo a vontade a um colega meu que, enquanto preparávamos uma aula conjunta, nós que somos professores, virou-se de repente e disse-me assim: Ouve lá, sabes que eu sonhei que eram as crianças que nos vinham dar aulas a nós? E logo nos pusémos a arranjar forma de concretizar o sonho.

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