08 dezembro 2006

O silêncio dos bons...

" O que mais preocupa não é nem o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-carácter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons"
Martin Luther King

Há muito que desliguei os canais de recepção do ruído político nacional ou regional e dedico-me, apenas, a viver os anos que me restam devolvendo à sociedade parte daquilo que aprendi. Não posso, porém, deixar passar em branco que - mais do que nunca - é preciso emular a célebre frase de John Fitzgerald Kennedy “Não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, mas o que podes fazer pelo teu país”. E que vejo eu senão deputados, administradores de bancos e outras empresas públicas com reformas chorudas e pouquíssimos anos de descontos para a reforma? Que vejo senão lucros exorbitantes de todos os bancos portugueses e das grandes empresas onde os seus administradores (na maioria ex-ministros, ex-deputados, ex-qualquer coisa) recebem dividendos ainda mais desmedidos? As frotas ao dispor dos ministérios são renovadas assiduamente, os motoristas fardados especializados em quebrar todas as barreiras de velocidade, continuam a proliferar. Os professores foram escolhidos para bode expiatório da crise e têm as carreiras congeladas, mas então, todos os outros podem prosseguir nas suas carreiras? Os alunos – esses não precisam de estudar ou aprender – porque lhes garantem a passagem automática para não estragar as estatísticas em Bruxelas. As pontes caem mas a culpa é do Divino ou da Mãe-Natureza, as estradas ficam cortadas com as primeiras chuvas porque nunca ninguém se preocupou em arranjá-las (ah! Que saudade dos cantoneiros da minha infância!) ou mantê-las. Como eu gostava de ver políticos a pensarem no verdadeiro país e não no bem-estar futuro deles e dos seus correligionários, capazes de criarem um parlamento com uma centena ou menos de deputados, capazes de legislarem, de simplificarem a burocracia (essa teia invisível que tolhe toda a iniciativa) e de pensarem no progresso da Nação sem equacionarem esse progresso com betão ou alcatrão. Sonhei um dia que o centro do país tinha deixado de ser Lisboa, e lá apenas estava a sede do governo, nada mais, mas depressa vi que isso nunca seria possível a menos que houvesse um novo terramoto como o de 1755. Sonhei com as aldeias cheias de crianças e as escolas reactivadas, os campos de novo cultivados e os mais idosos a aproveitarem os últimos anos de vida. Gostava de ver os senhores todos poderosos que mandam no povo a estarem horas à espera em qualquer hospital, repartição pública, tribunal, como os comuns mortais. A apanharem os péssimos transportes públicos colectivos em vez de serem conduzidos aos seus gabinetes almofadados e condicionados, a tirarem o seu número na fila para isto ou para aquilo, sem privilégios nem mordomias. Ah! Como eu gostava de os ver abastecerem as suas viaturas na bomba de gasolina e de gasóleo e insurgirem-se com o excesso de impostos que sobre aqueles produtos recaem. A viverem sem um médico de família como não sei quantos milhões de portugueses. Gostava, por último de os ver a falar português (em vez de os escutar no seu novo-riquismo saloio a provarem que falam línguas) e a fazerem férias em Portugal. Foi, então, que entendi porque é que uma recente sondagem dizia que havia gente a querer unir-se à Espanha à revelia de todos os nossos antepassados, o que eles querem é a vida fácil e sem esforço, que as vantagens de uma união traria, sem terem de se esforçar ou trabalhar, pois sabem que os subsídios de Bruxelas já não são o que eram e para isso troca-se a nacionalidade e novecentos anos de história por umas esmolas do país vizinho. Uma boa solução dentro da politica nacional do desenrascanço. Por isso tudo, não posso continuar silente e tenho de erguer aqui o meu grito de revolta porque aquilo que todos ouvimos é apenas o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-carácter, dos sem-ética.

Chrys CHRYSTELLO, 03-12-2006
ACL Mentor (Information Technology Research Institute), University of Brighton, UK.
Reviewer Helsinki University (Translation Studies Department Publications) Finland
Jornalista [International Press Card AU 0306, Australian Journalists' Association – MEEA, member 2977131]
Preside aos Comités Executivos dos Colóquios da Lusofonia e dos Encontros Açorianos da Lusofonia
chryschrystello@journalist.com

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