15 março 2007

Conhece a Igreja de S. Lourenço?

Fica em Alhos Vedros. Sabe onde se localiza esta cidade? E conhece a Igreja de São Lourenço ?

Remonta a fins do séc. XIII, mas da construção primitiva nada resta. A nave da igreja é do séc. XVII, tendo nas paredes azulejos datáveis de 1749, onde se relatam passagens da vida de S. Lourenço (patrono da igreja). Possui um conjunto de várias capelas, S. Sebastião, S. João Baptista, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora dos Anjos.

Já Alhos Vedros , que tem muito para nos contar desde os tempos do domínio árabe..., foi foral outorgado por D. Manuel I, a 15 de Dezembro de 1514, como resultado da acção política reformadora, empreendida por aquele monarca, no período entre 1496 e 1520. Como tal, faz parte da colecção dos "Forais Novos" ou "Manuelinos", assim designados, para se distinguirem dos "Forais Antigos", concedidos nos primórdios da nacionalidade.
Talvez o Grupo de Amigos da História Local, de Alhos Vedros, nos possa contar mais sobre a história milenar deste município! Fiquei curiosa e com o gosto de "quero saber mais"!

Um abraço,

Margarida
Uberaba, Minas Gerais, Brasil

Fontes:
http://www.geocities.com/alhosved/foralav.pdf
http://www.cm-moita.pt/cmm/patrimonio/index.php?pag=1

4 comentários:

ESTÓRIAS DE ALHOS VEDROS disse...

Margarida,
Os primeiros registos escritos que se encontraram sobre a Igreja e Alhos Vedrso remontam, de facto, ao século XIII. Existem, no entanto, mais recentemente algumas descrições, decerto recolhidas a partir de fontes orais, que referem relações existentes entre cristãos e árabes que remontam perto do início da nacionalidade.

Quando se procura a origem e o significado das palavras, Alhos Vedros, alguns autores falam da sua forma escrita em latim, Alius Vetus, o que talvez nos faça recuar aos tempos da ocupação romana do território.

Mas poderemos recuar mais ainda na ocupação do lugar e da região envolvente, de acordo com escavações arqueológicas aqui feitos que apontavam para vestígios da era paleolítica.

O significado preciso da etimologia da palavra não é pacífico entre todos que o tentam definir. Um dia, o Professor Agostinho da Silva, ele que em muitas outras coisas foi um eminente filólogo, disse-nos que Alhos Vedros significava Homens Velhos. Foi o suficiente para nós, a partir dos nossos sonhos ás cores, acharmos que o significado oculto era, na verdade, Homens Velhos com Asas, dada a relação que encontramos entre os que cá viveram e outras A-Ves, ou outros seres alados.

Depois lhe contarei o resto...

aquele abraço,
Luis Santos

Luís F. de A. Gomes disse...

Eu tive o enorme prazer de ouvir a Margarida palestrar em Alhos Vedros, na biblioteca pública, palavras bonitas sobre a lusofonia e o mundo lusófono e o que pode ser feito e o que se está fazendo para que se possa construir uma comunidade de comunicantes da língua portuguesa e contribuintes de culturas que a têm por substrato. Recordo-me da simpatia da presença e da elegância do dizer que manteve o silêncio da assistência não na ausência mas sim na máxima da atenção que se dá ao que manifesta interesse e relevância. E lembro-me de achar que foi precisamente a delicadeza e a inteligência da Margarida que conferiu ao evento o estigma do encontro e da partilha que sentimos como enriquecedora da alma. Senti então que a Margarida materializa precisamente aquilo de que mais gosto, a irmandade, a fraternidade desta massa que mesmo com todos os defeitos e pecados não deixa de ser delicada e enternecedora que é a humanidade. Irmã, irmão humano, aqui e em toda a parte. É esse o espírito que nos distingue como espécie única e missionária. À Margarida tiro pois o chapéu por isso.
Mas já agora permita a minha querida Senhora que lhe conte uma pequena história que aconteceu comigo, precisamente nessas terras planálticas que o Sol aquece e a chuva preenche de um verde que brilha quando o calor mais está a pique.
Eu não sou cristão e por isso desconheço as tradições e a iconografia e não fui capaz de responder quando, em intervalo de recital, na Matriz, justamente esta Igreja sobre a qual manifesta curiosidade, um amigo me perguntou sobre o significado de uma pintura do tecto -magnífico de ver, digo-lhe eu- que o estava a intrigar sobre o que poderia ser.
Respondi-lhe que deveria ser naturalmente algum símbolo relacionado com o cristianismo, mas para mim de todo desconhecido. Lamentavelmente não fui capaz de lhe satisfazer a curiosidade.
Pois em Ouro Preto, na Igreja de São Lourenço, uma das que, tanto quanto me recordo, não foi criação do Aleijadinho, foi-me explicado que aquele mesmo símbolo que eu, mal dei conta dele, tratei logo de tentar apurar o que queria dizer, mais não era que a grelha em que São Lourenço fora assado vivo por não querer renegar a sua Fé.
"-Si diz qu'i êli dizia, agora me assa do outro lado, vai, mi vira aqui." -Contou-me com ar alegre, o caboclo aparentemente responsável por conduzir as visitas, naquele interior alvo e tão cheio da memória destas igrejinhas daqui.
Esquinas da vida, encontros, como aquele que a Margarida nos ofereceu naquela noite, aqui, em Alhos Vedros.

Saúde, irmã de outro continente, também eu digo com o amigo Luís Santos, aquele abraço
Luís F. de A. Gomes

Anónimo disse...

E por falar em S Lourenço o padroeiro dos cozinheiros. Lá vai a história:

São Lourenço é o santo padroeiro dos cozinheiros.

São Lourenço de Huesca foi um mártir católico, diácono de Roma e viveu no século III d.C. No ano de 259 d.C, os cristãos estvam sendo perseguidos, mortos e jogados aos leões pelo imperador romano da época, um pagão de primeira linha. Não satisfeito, resolveu mandar matar o papa, e, como não era bobo nem nada, deu um prazo de três dias para a Igreja entregar suas riquezas (faz-me rir, tolinho!).

Findo o prazo, São Lourenço levou diante do imperador alguns fiéis cristãos, dizendo que eles eram o tesouro da Igreja. A frase, que depois foi usada e reusada ao longo dos séculos, obviamente não agradou e o romano furioso mandou prender e queimar São Lourenço - notem como a Igreja aprenderá a lição do foguinho.

O detalhe é que o imperador era muito, muito cruel e mandou amarrar São Lourenço sobre um braseiro ardente, por cima de uma grelha, onde ele foi, literalmente e lentamente, assado vivo. No meio do tormento o santinho ainda teve bom humor de virar para o carrasco e dizer: "Vira-me, que deste lado já está bem assado... Agora está bom, está bem assado... Podes comer!".

Bom, São Lourenço é festejado dia 10 de agosto, há várias igrejas dedicadas a ele e suas estátuas têm uma grelha e uma Bíblia nas mãos. Outro santo, de nome muito apropriado para o caso, Santo Ambrósio, fez o Hino a São Lourenço, contando todos os passos dessa história:

Lourenço, o arcediago
quase um apóstolo,
imortalizado pela fé romana
com a coroa própria dos mártires.

Enquanto seguia o mártir Sisto,
um responso profético dele obteve:
"Cessa, filho, de afligir-te:
me seguirás daqui a três dias".

Não sentiu o temor do suplício
o designado herdeiro daquele sangue
que com o olhar piedoso contempla
o destino que logo será seu.

Já naquele mártir
o sucessor legítimo celebra
o triunfo de mártir, na posse como está
de um empenho marcado pela voz e pelo sangue.

Impõem-lhe de entregar em três dias
os tesouros eclesiais;
docilmente promete, não recusa,
acrescentando uma zombaria à vitória.

Que esplêndido espetáculo!
Reúne filas de pobres e exclama,
indicando aqueles míseros:
"Eis as riquezas da Igreja!".

Verdadeiras e perenes riquezas
são dos fiéis os pobres;
zombado o avaro se impacienta:
a vingança e as chamas apresta.

Queima-se por si o carnífice
e foge de suas próprias chamas:
"Virem-me", pede o mártir,
e ordena: "se está cozido, comam".
Veja mais em http://lacuisinedemarieamelie.blogspot.com/

Estudo Geral disse...

Nas festas populares de Alhos Vedros, em honra da Nossa Senhora dos Anjos, que se comemoram por cá todos os anos, no dia da procissão, segue um andor com o S. Lourenço, grelha numa mão, Bíblia na outra. Tanto quanto sei, faz séculos.

No século III, não era fácil ser cristão. Mártires aos milhares, alguns canonizados, como sabemos. Uns séculos mais tarde, infelizmente, tornou-se perigoso, pelas mesmas razões, não subscrever todo o dogmatismo católico. O foguinho não era o mesmo, mas era parecido.

Aliás, ao longo de toda a história do ocidente (e não só), o poder tem sido pouco complacente para quem ousa contrariá-lo, e ainda hoje, embora de maneira diferente, podíamos referir vários exemplos de intolerância para com "o outro", por mais democráticos ou socialistas que sejam os regimes.

E lá vamos utilizando, sobretudo, a Língua Portuguesa para compreender e explicar tudo isto, para que as lições nos permitam avançar face aos exemplos passados, na construção de um mundo mais fraterno, mais tolerante, mais justo, pacífico, amando mais o amor, trocado o poder pelo serviço. Alguns encontraram nesta sua praxis, como sabemos, o tal Império que seria o último. E será que foi?