19 março 2007

Tão triste
é o dia em que te não vejo
meu amor,
dobrado sobre mim mesmo
numa absoluta ausência de mim
nó apertado da gravata na garganta
(e logo eu que nunca usei gravata)
músculos distendidos, nervos abandonados
clamo por ti,
esvazio-me de pensamentos
escuro, bruma, zero, nada
será que vai parar o coração?
Respiro.
E agora vou
gostaria de levantar vôo, mas não
eu não sei voar, não saio daqui
onde tudo paira
não vejo como me posso segurar no ar
sinto até medo, mas logo afasto o medo
e tudo paira
encho-me de endomorfinas assim dobrado
sentado, testa apoiada na mão,
olho para o rio, vazio, mas não o rio
e logo desolho
vou para dentro
(entretanto, endireito um pouco a coluna vertebral),
quem está aí?
És tu, respondo (dirigindo-me a mim mesmo)
e tento silenciar-me absolutamente
medito concentrado na respiração
a cabeça pende, o corpo dobra-se de novo
e silencio-me numa nova chegada de bem-estar
no meio de um deserto que permanece, angustiante
medito mais profundamente
e descubro a raiz da meditação,
está aí alguém, pergunto de novo?
Está.
Quem?
(...)
as almas são peregrinos eternos no habitáculo
dos corpos,
deito a cabeça no seu colo e esvazio-me em lágrimas.

Ah, meu rio de palavras que não tens onde desaguar, deixa-me por ora meditar, ganhar forças para atravessar esta tão enorme dor que me é devida.

28/02/2007
(Uma outra Alma)

4 comentários:

Anónimo disse...

Quem sofre mais, aquele que diz sofrer, ou aquele que sofre e não diz? T.

Estudo Geral disse...

Penso que o sofrimento não tem uma relação directa com quem diz, ou não. Mas fizeste-me recordar uma anedota que eu depois conto...

Anónimo disse...

Espero não seja preciso levar "rolinhos de queijo" para a ouvir e porventura não se engane no destinatário. Ou é assim tão evidente? A.s.= Até sempre. T.

Estudo Geral disse...

Para a ouvir? Talvez sejam mesmo neessários os rolinhos de queijo... Mas venha.