11 maio 2007
Uma garça cheia de graça
Calmas, brancas, pescoço alongado
bico comprido afiado.
Sessenta centímetros de tamanho
pernas pretas e patas amarelas
comem da terra junto das ovelhas, ou dos bois.
Patas compridas
sempre por perto ou dentro de água,
da salgada ou da salobra.
Tem uns arbustos onde fazem ninho
e como casa a Terra inteira
caminham devagarinho
num passo indeciso
e olhar absolutamente inofensivo.
Lembro-me que um dia fui passear
até por perto do mar
num lugar em que ele se junta com o rio.
Um passeio habitual,
da minha casa até ao rio
há toda uma parte ainda natural.
É onde eu falo com os pássaros
e canto com as árvores
e convivo com o meu amigo vento,
braços abertos para o sol
deixo fluir o pensamento,
e é dali que eu vejo tudo.
No caminho tem umas árvores
que em parte do ano estão despidas
são aí um conjunto de seis, porte elevado
umas às outras encostadas, sentadas,
alinhadas seguem um pequeno curso de água.
Naquele dia
em que o dia ainda pequeno, crescia
e em que o sol já forte despontava
e em que eu caminhava na direcção do rio,
nos ramos daquelas árvores nuas
olhando para o sol a subir
estava um bando de garças a curtir,
o seu calor.
Uma poderosa presença
pela maneira como viradas para Ele olhavam
pela maneira como o adoravam,
até que dei comigo a pensar
que não eram garças, afinal
eram anjos a descansar.
in,
O Espírito dos Pássaros, de Luis Santos (no prelo).
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