08 janeiro 2008

P. António Vieira 400 anos (1608-2008)

O QUINTO IMPÉRIO

Há muito António Vieira escreve em segredo um livro sobre o V Império, inspirado pelas profecias bíblicas, mas em que o Bandarra se integra, tal o apreço em que Vieira o tem. O velho sonho: dar a Portugal a sua grandeza antiga.

Estudando profundamente as Escrituras e todos os Santos que falam do imperador que Jesus prometera à Igreja, o jesuíta está firmemente convencido que o V Império só pode ser português (os anteriores tinham sido o dos assírios, o dos persas, o dos gregos e o dos romanos).

Baseado nas palavras de Jesus ao rei Afonso Henriques na batalha de Ourique (na época, uma verdade incontestada), "quero em ti e na tua geração criar um império para mim", António Vieira crê que o rei escolhido é o Encoberto, até aí D. Sebastião. Perdida essa esperança, o pregador interpreta a linguagem vaga e esotérica das profecias para concluir que esse rei é agora D. João IV. O Quinto Império seria de ordem temporal e espiritual. Em ambos os campos, Portugal seria o guia para que se extirpassem as seitas infiéis, se reformasse a cristandade, se estabelecesse a paz em todo o mundo, através de um Sumo Pontífice santíssimo.

Esta construção ideal de António Vieira, prodígio imaginativo e delirante, começaria a tornar-se realidade se o príncipe herdeiro português casasse com a herdeira do trono castelhano. Iniciar-se-ia o Império, com Castela e Portugal sob o mesmo rei. Com novas e confusas efabulações António Vieira transfere o Encoberto para o príncipe D. Teodósio.

O rei é seduzido pelo plano. Envia Vieira a Roma para os primeiros contactos com o embaixador espanhol na cidade papal. Mas o diplomata não rejubila com a proposta. Vê nela um ardil que desconhece.

O Conde-duque de Olivares que governa Espanha fica, igualmente de pé atrás. Sabe que Vieira, nos anos anteriores andara por França e Holanda a intrigar contra os castelhanos. A sua visão curta não detecta o ponto fraco do plano português: obviamente, a aliança colocaria Portugal na dependência de Espanha, tal a diferença de poderio entre as duas nações. Pensa que a proposta revela a fraqueza das armas portuguesas e decide usar a força para derrubar D. João IV. Saiu-se mal, como o provou a História.

Mas Vieira levava uma missão sigilosa: apoiar os napolitanos, então sob o domínio de Castela, na sua revolta. O embaixador espanhol descobre a intenção e manda matar o jesuíta que escapa à morte por ter sido avisado a tempo. O plano falhava totalmente. Regressa a Portugal em 1649 - o ano em que o padre jesuíta Martim Leitão o denuncia à Inquisição, pela primeira vez.

Em Lisboa, os muitos inimigos de Vieira conspiram contra ele junto do rei já desagradado com a falta de previsão no caso de Pernambuco e agora com o malogro do casamento. Aparentemente, porém, as relações entre D. João IV e Vieira mantém-se inalteráveis. Até que, em Novembro de 1651, D. Teodósio, de quem o padre era preceptor, resolve, sem conhecimento nem autorização do pai, fazer uma incursão pelo Alentejo para tomar contacto com a guerra que ali se encarniça. Atribui-se a Vieira a instigação de tal atitude. E D. João IV afasta-o, delicadamente, do seu convívio.

É o momento que a Companhia de Jesus espera: em Novembro de 1652 ordena-lhe que regresse ao Brasil, como missionário no Maranhão. Desta vez, o rei nada faz para contrariar a sua partida.

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