23 janeiro 2008

Uma Língua de Fogo

20.

... UMA ROSA!

(ao Zé)

Nem relógio, nem agenda
já sei
vou-lhe dar como prenda
um livro
escrito por mim,
ou uma flor?
O mundo inteiro
talvez não
um botão de rosa
sim, é isso, uma rosa
mas em prosa caduca também não
tem de ser em poema
vou vasculhar na gramática
uma regra fora do esquema
um sítio, numa ilha escondida
um índio, um sonho
de uma floresta
uma clareira no monte
uma fonte de água límpida
enfim, uma rosa que é tudo
que é esposa e trabalho
que é filhos e de-lírio
uma flor de lis
do Luis.

Uma rosa, cor-de-rosa, bendita
sem espinhos
e dar-lhe-ei beijinhos
nem me importa o que diga o mundo
será um fruto do futuro tornado presente
um presente feito um tempo antecipado
um ser encontrado
adorado e agradecidamente amoroso
um fogo feito pomba em festa
uma dança, um transe, uma ternura
que vai direitinha a ti
de mim.

2 comentários:

MJC disse...

Ói Luis,
mais do que este poema, antes o conjunto que vens publicando com a tua assinatura no blog, é o tempo - e as pontes que dentro dele ficaram e, de repente, emocionam -a atestar a sua qualidade, a sua cor, o seu tom.
Um rumorejar antigo de água que corre e sacia e renova uma sede (agora tranquila) de infinito e uma ânsia colectiva de tudo fecundar.
E, ainda, nos deixa "assim" como crianças nas margens de um rio ou "como árvores na beira dos caminhos impelidas a dar drutos mesmo sem que lhes peçam".
Parabéns ao poeta (e a quem através dele também comunicou).
Eu aplaudo ! mas calo-me já de seguida escutando a música.
abraço do m. joão

Estudo Geral disse...

Já lá muito atrás dizia o Caetano:

"Tempo, Tempo, Tempo
vou-te fazer um pedido
(...)
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
És um dos deuses mais lindos
Tempo, Tempo, Tempo."

E seu Very Nice dizia:
"Ver as crianças brincando
nas margens do rio
pintando de luz e alegria
as margens do rio
Consegue-me enganar
e até me faz pensar
que o mundo vive em paz..."

e etcetra.