10 fevereiro 2008

...Tudo isto é Fado.

DIGA LÁ NOMES.
NÃO DIGO, NÃO.

Há muitos anos, esteve de moda uma cantiga brasileira que dizia: «tinha rabo de leão, leão, mas não era um leão, leão…», acabando por concluir, depois de muitas dicas, que afinal era a mulher do leão.
Sem que se cante tão animadamente quanto no Brasil, em Portugal a ambiguidade é tudo, por isso temos ditados do estilo «é dos enganos que vivem os escrivães» e conselhos de não confundir pó com popó nem a beira da estrada com a Estrada da Beira.
Londres tem – hoje menos intenso do que no passado – um fenómeno chamado de smog, que é uma mistura de fumo e nevoeiro, que faz tossir e não deixa ver um leão, leão à frente do nariz. Nem a mulher do leão.
Ora, em Portugal é que isto dava muito jeito: quando alguém falasse de fumos de corrupção respondia-se-lhe que não, que era smog. Isto de usar palavras estrangeiras, já se sabe, é sempre para lixar o parceiro. Por não haver espaço para a desculpa com o smog é que a Marinho Pinto se atiraram de bico afiado os papagaios cinzentos do sistema. Por sequela, quem sabe, da cultura salazarenta que não se consegue expurgar do comportamento mais comum, chama-se-lhe demagogo e exige-se-lhe de dedo apontado como canhangulo: diga nomes, diga nomes. Que saudades da Pide, depois de uns «safanões», o homenzinho debitava uma tal quantidade de nomes que só não podia ser maior porque não conhecia mais ninguém.
Corrupção é coisa de que todos falam e mais ou menos sabem. Todos declaram querer combatê-la, mas na hora da verdade assobia-se para o lado.
Para armar ao pingarelho – ou será para atirar poeira para os olhos? – instruem-se processos com centenas de arguidos e milhares de testemunhas, que é a forma mais expedita de ninguém ser condenado, o que é uma coisa boa, dado que o povo fica contentíssimo, pois basta-lhe ver enlamear nomes de gente graúda. Nada o faz mais feliz que soletrar num tablóide uma qualquer chafurdice, mesmo que seja mentira. Que importa a verdade e a justiça? O que é preciso é excitação e podermos gritar: malandros! Isso basta.
Entretanto, quem mexe os cordelinhos desta ópera bufa dá circo à turba. É o caso, por exemplo, da corrupção desportiva, crime que, por sinal, até há bem pouco tempo era penalmente inexistente, por falta de regulamentação, mas que é sopa no mel, coisa desembarcada no meio das paixões clubistas. Assim, as tribos do futebol entretêm-se, como é costume, a vilipendiarem-se umas às outras, cada uma escolhendo quem mais jeito lhe dá para chamar malandro. Com isto se escamoteia que no desporto a corrupção não é nem pode ser maior do que a que grassa nas demais actividades, quando muito, será menor, por estar cercada de olhos atentos.
Para espanto de muitos, uma profissional da alternadice, especialista em disfarçar dos amásios gases intestinais o cheiro, vem à televisão gabar-se que contratou espancadores para porem o Bexiga de braço ao peito…
E nada lhe acontece, por falta de provas. Malandra, com o meu voto não se inocenta ela!


Abdul Cadre

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