02 junho 2008

ALHOS VEDROS NUNCA ESQUECERÁ!

Lamentamos a demolição da estação de Alhos Vedros, antes de mais pelo que o acto revela de insensibilidade para as questões do património cultural e da possibilidade de este ser utilizado como um recurso do desenvolvimento económico e social. Na verdade, o património é a matéria-prima da actividade turística em todo e qualquer país rico. Para além disso, que já é muito, a preservação da memória eleva a cultura dos povos, um dos factores que faz com que as populações sejam livres.
Só por demagogia ou ignorância se pode dizer que a modernização colide com a preservação do património.
Não sendo isso verdadeiro em termos genéricos, como o prova a conservação a que se assiste nos países mais desenvolvidos, também o não é neste caso específico da electrificação da linha do Alentejo, na medida em que a REFER dispunha de espaço próprio e suficiente para construir a nova infra-estrutura na faixa de terreno que vai para lá do antigo armazém de cargas e descargas. Acresce o facto de ter sido isso precisamente que se fez, e bem, na estação do Pinhal Novo.
Por tudo isto, só podemos considerar que a destruição em causa se tratou de um acto bárbaro. A população desta Vila foi vítima de um atentado contra a sua memória e valores culturais.
O nosso propósito era o da conservação e negociação entre as diversas partes implicadas, para que houvesse uma conjugação de esforços no sentido de se encontrar uma solução que fizesse do edifício desactivado um equipamento capaz de, por um lado, constituir uma mais valia para esta localidade e, por outro lado, permanecer enquanto cartão de visita para todos os que pela via férrea chegam aqui.
A nossa atitude, dirão alguns, pecou por tardia. A esses diremos que não pudemos agir mais cedo, porque de nada tivemos conhecimento. As responsabilidades por esse desconhecimento, por essa falta de informação, deverão ser apuradas, pois só assim será possível extrair lições que poderão ser úteis no futuro, na defesa e preservação do património - cada vez mais exíguo – e que, por isso mesmo, importa preservar.
Repudiamos por isso a manifesta falta de vontade para o diálogo e informação por parte da direcção da REFER, para com a população de Alhos Vedros.
Lamentamos também a insensibilidade ou incompetência daqueles que, sendo representantes de uma população, permitiram semelhante incúria.
Esperamos que nas ruínas daquele antigo equipamento esteja o alerta para que haja sensibilidade para a ideia de que o património cultural é uma riqueza das populações e, ao mesmo tempo também, para a necessidade de que as populações possam ser convenientemente informadas, e de preferência consultadas, em casos e decisões semelhantes.
Alhos Vedros nunca esquecerá o que aqui se passou e jamais perdoaremos aos responsáveis.
Congratulamo-nos com o empenho das pessoas, que por duas noites se dispuseram a permanecer de madrugada junto da velha estação e sublinhamos o grande exemplo de civismo dado em todo este processo.
A população de Alhos Vedros deverá, de uma vez por todas, ter parte activa na gestão dos espaços e equipamentos da nossa terra..

Movimento de Cidadãos Para a Defesa e Preservação da Estação de Alhos Vedros

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