11. Ainda o Tibete...
Por ouvir falar em Teocracia, tenho para mim que Deus é Liberdade. Naturalmente, uma liberdade com regras, dada a necessiade de vivermos num Estado de Direito, onde a igualdade de todos perante a lei é (ou deveria ser) princípio basilar. Uma liberdade onde o processo de iniciação dos noviços seja feito de forma adequada para não deixar que ninguém se perca.
Desde a Revolução Francesa que temos vindo a aperfeiçoar um sistema político de democracia liberal, economia de mercado, capitalista, com maior ou menor intervenção por parte do Estado, sistema que saiu triunfante da "guerra fria", dada a súbita queda dos socialismos a leste, mas não de todos.
Os Socialismos hão-de voltar e veremos, lá mais para a frente, no que vai dar a aventura Chinesa deste Socialismo de Mercado. Esperemos que nos possa trazer um aperfeiçoamento que os liberalismos tardam em conseguir. Dizemos os liberalismos porque eles não são todos iguais se comparamos, por exemplo, o norte com o sul da Europa.
De facto, esta nossa democracia liberal tem tantas limitações que se torna exasperante. Faltam-lhe mecanismos que lhe garantam um melhor funcionamento e que lhe reduzam os incríveis demagogismos, os clientelismos partidários, o situacionismo de partidos (quer dizer, da realidade não ser inteira, íntegra), onde não seja necessário os políticos falarem aos gritos, numa indelicada poluição sonora, quais enganosos vendedores de banha da cobra.
Sente-se a falta de Algo, ou de Alguém, que esteja acima do Presidente, do Governo, dos Tribunais, mais lúcido, mais clarividente, que os possam orientar na sua limitada capacidade de gestão do tecido social. Esta inépcia política torna-se ainda muito mais gritante na administração autárquica.
Talvez no lugar de um Conselho de Estado devêssemos ter um Conselho de Sábios que muito úteis podiam ser nos desvarios mentais dos nossos líderes políticos. Talvez assim a Justiça legitimasse o Estado de Direito, a Educação formasse pessoas de eficaz participação social, os doentes tratassem da Saúde e o sustento desse muito mais para todos com muito menos trabalho.
Mas já agora, o que é um Sábio?
E não será que, com estas ideias, numa determinada perspectiva, nos estamos a aproximar de um sistema político teocrático? Ou será que é mais oligárquico? Bem, talvez seja mais de um anarquismo pacifista. E daí?
É claro que necessariamente as Agendas Políticas se adequariam definitivamente aos Direitos Humanos.
Luis Santos
30 outubro 2008
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8 comentários:
Hoje de manhã estava na televisão um programa em que falavam de eutanásia. Fizeram a pergunta a mimistros das diversas religiões e, quando chegou ao budismo, foi Paulo Borges que respondeu. Sabes porquê?
Abraço.
António
O Paulo Borges é Presidente da União Budista Portuguesa.
Paulo Borges disse...
Caro Luís, seria de facto ideal que os sábios governassem o mundo. O problema é que o mundo deixou de reconhecer os sábios e o valor da sabedoria e os sábios deixaram de poder investir num mundo ignorante, entregue às opiniões individuais ou colectivas e às paixões que as movem. Perdeu-se o sentido da Grande Política, da arquitectónica de uma civilização orientada para a elevação intelectual e ético-espiritual dos indivíduos e dos povos. A política é hoje apenas a arte do possível e o possível apenas o que a economia determina.
Resta-nos resistir com a micro-política do melhor governo de cada um pela dimensão superior de si mesmo, resta-nos realizar interiormente a República de Platão, que aliás já no pensador ateniense supunha essa boa ordenação interna de cada cidadão. Resta-nos isso e a expansão disso na esfera das nossas relações mais próximas, o que não deixará indiferente a sociedade onde vivemos, a nação, o planeta, o universo. Este mundos vai afundar-se no colapso da barbárie que desde há muito o governa. Espera-nos uma nova Idade Média, em termos formais, mas com conteúdo diferente, repleta de lixo tecnológico. E, tal como o papel desempenhado então pelos mosteiros, serão as pequenas confrarias de sábios e homens virtuosos que manterão vivas as sementes de um mundo novo, a brotar dos escombros, feitos húmus fecundo, do presente.
Vivemos tempos apocalípticos. MAL de quem no MIL não o perceba. Não é a União Lusófona nem o Quinto Império que nos vai salvar, por mais interessante que o seu projecto seja. Quem nos pode salvar somos apenas nós próprios, ou melhor, o amor e a visão que conseguirmos ter. A Águia com coração de Pomba.
31 de Outubro de 2008 10:35
lc disse...
Bem, é esse o dever das utopias, dos sonhos, em acedermos a uma Vida magnificente. A vida só por si, unicamente por aqui, parece-nos grandiosa, mas efémera. Há que rasgar horizontes. Estas tuas palavras para mim fazem sentido. Não no sentido de concordar com tudo, mas no plano de que são pavras boas, maduras, que nos põem de sobreaviso para homens comuns que com facilidade traçarão caminhos sem saída, ou onde as saídas não serão as mais desejáveis.
31 de Outubro de 2008 12:29
Renato Epifânio disse...
Sinceramente, Luís, não percebo bem essa tua insistência no "modelo chinês". Sem maniqueísmos, até concedo que é um regime adequado à realidade chinesa (passando agora por cima da questão do Tibete). Mas não me parece, de todo, exportável, de modo a servir de modelo a qualquer outro país. Do Ocidente, pelo menos...
31 de Outubro de 2008 12:41
lc disse...
Renato, eu não faço grande insistência. Constacto. É um sistema político à semelhança de outros possíveis de organização social, sendo que no caso da China é bem real e se alarga a aproximadamente 1/4 da Humanidade.
Depois, sabemos que até há muito pouco tempo atrás, o mundo se dividiu entre dois grandes blocos políticos, onde as ideias socialistas exerciam fortíssimo domínio num deles.
Portanto, as ideias socialistas manifestam uma pujança que está longe de ter desaparecido e não terá sido o recrudescimento dos socialismos soviéticos que as farão extinguir, até enquanto ideal de socieades que funcionem de forma mais justa, com maiores eficiência na distribuição das riquezas.
Eu não estou a dizer que defendo os regimes socialistas, até porque eles, tal como os liberalismos, também têm várias modalidades.
Mas se tens curiosidade entre conhecer o meu ideal político, que não partidário porque não tenho (nada) partido, ele andará entre um sistema teocrático virado para a máximas das liberdades, um sistema oligárquico num poder todo virado ao seviço da causa comum, e um anarquismo pacifista onde os direitos humanos sejam ponto de ordem permanente das agendas políticas.
Isto é aquilo que sou aqui e agora, mas pode muito bem acontecer que me esteja a esquecer, no momento, de qualquer coisa.
E, já agora, quais são as tuas preferências?
Luis Santos
31 de Outubro de 2008 13:03
Eu tive alguma coisa a ver com o que de bom aconteceu por aqui?
:)
António
Tu tens sempre alguma coisa a ver com o que de bom se vai passando por aqui.
Já agora aproveito para fazer uma correcção: ao que parece, esclareci ontem em conversa, constacto não tem c antes do t.
Renato Epifânio disse...
Caro Luís
Não consigo ver como é possível andar “entre um sistema teocrático virado para a máximas das liberdades, um sistema oligárquico num poder todo virado ao serviço da causa comum, e um anarquismo pacifista onde os direitos humanos sejam ponto de ordem permanente das agendas políticas”. Mas já percebi que prezas os posicionamentos paradoxais. Nisso, talvez sejas mais agostiniano do que eu…
Eu, anarquista não sou (acho o anarquismo uma mera inconsistência teórica). Decerto, apesar de também não ser “teocrata”, defendo as “liberdades máximas” (melhor, maximamente possíveis…). E um Estado (não uma Oligarquia…) “ao serviço da causa comum”. Sem pretensões igualitaristas, sempre a meu ver tão ilusórias quanto catastróficas, mas em prol de uma sociedade onde todos tenham direito a uma existência digna.
1 de Novembro de 2008 0:00
lc disse...
É uma postura ideológica com muito interesse, a tua. Outra coisa não seria de esperar. Encontro-lhe uma grande aproximação com a ideia de democracia radical e plural desenvolvida por Chantal Mouffe, no "Regresso do Político", onde ela descreve a melhor filosofia política como aquela que se encontrará numa tensão entre a máxima das liberdades para a máxima das igualdades. Eu também gosto da ideia.
Quanto à minha realidade paradoxal ela tem muito do Agostinho sim, sobretudo, o que ficou por dizer.
Tudo somado dá um interessante conjunto de generalidades teóricas que só serão realmente interessantes se nos ajudarem a cumprir o nosso caminho, na medida em que consigamos ser as própris ideias. Enfim, utopias que nos puxam.
1 de Novembro de 2008 19:57
Luís,
Confesso a minha ignorância. O sistema político teocrático para que caminhamos hipoteticamente é aquele que dominou na Idade Média ( século XI ao XIV), quando se atribuía ao papa, a autoridade espiritual e temporal máxima, o direito de coroar e depor os reis?
Para onde caminhamos? Será que o mundo, cada vez mais, está na mão de poucos e sem rosto?
E n´s?
Mas definir como? Teocracia, Oligarquia, Democracia, Ditadura?
Margarida
Margarida,
Provavelmente o mundo caminhará para diferentes sistemas políticos, conforme os lugares e as circunstâncias. Num mundo mais globalizado, onde as distâncias de tempo e espaço cada vez mais se esbatem, vai-se verificando alguma hegemonia por parte do pensamento dominante, mas sempre algumas resistências se verificam...
Sejam quais forem os tipos de sistemas políticos que venham, espero que tudo não seja mais do que um passo em frente no afinamento dos sistemas democráticos, de uma organização mais eficiente no funcionamento das sociedades humanas, onde tudo dê o mais possível para todos. Uma tensão política entre a máxima das liberdades para a máxima das igualdades.
saudações lusófonas,
Luis Santos.
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