31 janeiro 2009

Proposta de Manifesto da CACAV (1996)

Agora que a CACAV inicia uma nova fase de vida, sobretudo, com a definitiva consolidação do Projecto da Escola Aberta Agostinho da Silva, deixo aqui publicado o Manifesto elaborado faz mais de uma dúzia de anos, porque de alguma forma refere simultaneamente uma crítica e uma ambição que agora aqui se renovam, pese muito embora o passar dos tempos.

Manifesto Crítico (direi eu agora)

Ó canto da Alma Estremenha
parte das partes
que te engalas e enlevas na Lua-Cheia:
mais do que o sonho desejado és realidade
a nueza crua da vida
mas que sendo real és sonho.

Ó anseio de transcendência
de amantes artistas que te rendem,
(quase) deserto de moças em teu cólo:
que queres dos rapazes que carregas
que pensas das palavras que constróis
que sons te produzem por detrás das palavras
de que Mantra és tu?

Ó poeta bailarina das esquinas
bêbeda cambaleante de salões
modesto vislumbre de políticas:
és o Jardim adiado de Alhos Vedros
o impossível pinhal (re)plantado
um bairro de renovadas capelas.

Ó poema com falta de poesia
Ó pintura de meios tons
Ó música desinspirada de cores:
porque te trazes tão despida
porque só te encontras depois de esquecida
porque tão bem e friamente te assumes?

És assim só e triste
um rasgo que avança outro que desiste
pássaro de envergonhadas plumas:
reverso reflexo do reverso
a parte detrás do cú
invejosamente consegues ser tu.

(inspirado numa conversa com o Croca sobre o futuro da CACAV)
in, Luis Carlos dos Santos, Oxitocina, Ed. Casa de Estudos de Alhos Vedros (CEAV), 1996.

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