01 março 2009

Crescer

Para um amigo muito grande,
um poema que se chama Crescer mas que fala da liberdade


Hoje acordei a chorar
(perdoem-me aqueles que não choram)
numa vala de pensamentos,
Quis poder renunciar
A todos os momentos

Fragmentos, contra tempos
Passos lentos, guarda-chuva
Nuvens, fumo,
Pedras, asfalto, rochedo
Angústia, frio, medo

Era um dia escuro, duro escuro
E as cortinas liláses
E o tapete cor de uva
E a vidraça da janela
Tímida

Da casa do rés-do-chão
Gradeada como uma cela
Em jeito de prisão
Enquanto no meu peito
Foge, foge, fugia

Pedras, asfalto, rochedo
Vontade que emergia,
E eu ainda sonhava
Enrolar a minha lingua em algodão doce,
E fazer bolas em pastihas de alcatrão
E soprar outras sorridentes de sabão
E que o mundo que me embalava
Fosse...
O mundo que me segurava
Fosse...

Porque eu brincava em baloiços verdes,
E ele me amava
E surpreendia
E eu ria, ria, ria
Julgando não ser crescida

E sem poder enterrar
O que vinha já sendo um segredo
Quis acordar a cantar
Como um pássaro sem medo.

Joana Espirito Santo

9 comentários:

Anónimo disse...

Puxa, Joana, que coisa mais linda. Assim, não há vala de pensamentos que resista. Obrigadooooooo.

Anónimo disse...

Adorei o poema. Manda sempre. Parece que encontrei nele uma musicalidade muito próxima da minha, mas para melhor. Beijinho. Luis.

Anónimo disse...

Agora fiquei sem jeito,tímida, corada(?).
Obrigada eu.
Que honra tê-lo feito para ti.
Bjs Jo

Anónimo disse...

Beijinho Jo.

Eduardo Trindade disse...

Realmente, um poema lindo! Expressivo e muito bem escrito. Eu sinto como se entrasse novamente na velha casa em que morei, e me deu uma saudade...
Abraços!

Anónimo disse...

Obrigada.

Beijinhos.

Jo

Anónimo disse...

Olá Eduardo, não nos quer desvendar os egredo das valsas invisíveis?

Felicidade na Educação disse...

Ainda bem que existe a consciência de criação poética...

Abreijos

Eduardo Trindade disse...

Olá!
As valsas, invisíveis ou não, quem sabe o segredo delas? Cada um de nós sabe um pouco. Porque cada um de nós já deve ter se descoberto dançando à toa sozinho em casa, ou reparando no abraço que uma árvore dá à paisagem, ou ouvindo a água girar na xícara enquanto as folhas do chá formam desenhos no fundo. Isso tudo, para mim, são valsas invisíveis...
Abraços!