11 janeiro 2010

Trio da Fraternidade Natalina

O Caranguejo há muito era amigo da Lagosta, ambos vivendo numa Ilha deserta do Atlântico, que mais parecia um isolado Atol de areias brancas, coqueiros e límpidas águas azul-turquesa.
O primeiro lembrou à segunda de que já era hora da Tartaruga vir do mar para a habitual sazonal desova. A Tartaruga era tambem uma velha amiga de ambos os crustáceos, e trazia sempre notícias, algumas novas outras antigas, de tudo o que testemunhava no mar, ao longo do ano em que ficava ausente da Ilha, onde aliás, tambem havia nascido.
Combinaram nessa noite, ficar de alerta perto da praia, uma vez que esperavam ambos a Lua cheia e a chegada a qualquer momento, da Tartaruga, que decerto seria mais fácil de detectar à luz daquele astro.
Dito e feito. A Tartaruga acabava de nadar vagarosamente para terra e subia agora areal acima, até lugar mais afastado e alto, a salvo das ondas do mar.
Correram ambos para ela e abraçaram-na com entusiasmo e felicidade, sobretudo pela saudade que sua ausência havia causado aos dois Amigos.
Estavam novamente reunidos e juntos na Ilha que vira nascer a todos eles, e que, deles fizera Amigos de vida e circunstância.
Deixaram que a Tartaruga cavasse o buraco para a postura de seus ovos e lá os pusesse dentro e em segurança, e os tapasse com uma boa quantidade de areia, assim ocultando-os dos olhares e cobiça de outros animais predadores.
De todas as histórias que a Tartaruga contou, desta vez, houve uma que a todos atraiu mais, incluindo à propria Tartaruga que a contou, sobre uma forte Luz que observou em certa parte do fundo do mar, quando em sua passagem de regresso à Ilha. Esta chamou-lhe fortemente a atenção, pois, a tal fenómeno nunca assistira antes. E tambem, por ter observado que dela saiam estranhas formas, que nao conseguiu identifcar ou explicar, nem mesmo a si mesma. A curiosidade que ficara desde então era tão grande que, só ansiava lá voltar novamente, mas pelo medo que sentira, somente se acompanhada de alguem que com ela quisésse ir!
Não demorou muito que os dois Crustáceos se oferecessem para tal efeito. Assim, usando a carapaça da Tartaruga como boleia, partiram os três mar adentro, rumo à tal Luz misteriosa, no meio do oceano. Atravessaram mares agitados e depois de meses a enfrentar ondas encrespadas, veio a bonança de águas mais calmas, onde haviam enormes e frondosas florestas marinhas de sargaços e outras algas gigantescas.
Quase foram comidos por ameaçadores tubarões e outros monstros predadores dos mares, e aos vários perigos, o destino ajudou a escapar por um triz e a chegar ao objectivo de sua épica aventura.
Depois de um profundo e longo mergulho, a Luz que os motivara a tantas atribulações, via-se agora nítidamente no fundo do oceano. Rápidamente se aproximaram dela, e logo sentiram uma força inevitável, que os atraia e impelia irremediavelmente em sua direcção. O medo e a ânsia faziam-lhes os corações batucarem descompassados nos peitos, fazendo a água vibrar à volta.
Em um instante, viram um ser humano imponente no seio da Luz, portando um garfo luminoso, feito aparentemente de fogo, que ardia apesar do ambiente aquoso. Em vez de pés, aparentava ter algo parecido com um rabo de peixe na extremidade inferior do corpo, como é comum às sereias, que contudo, poderia muito bem ser uma espécie de dispositivo natatório.
Uma voz apareceu na cabeça dos três. A voz dizia, que muitos o conheciam como o Rei dos Mares, o lendário Neptuno, um Deus das Tradições Teológicas Romanas, mas que, na verdade, não passava de um ser humano adaptado às profundezas dos mares e que ali, de onde vinha a Luz, a qual era simplesmente uma entrada, um Portal para um mundo subterrâneo subaquático, haviam muitos outros semelhantes, a si. Na verdade, continuou a voz, ele era sómente um guardião de uma das entradas principais para a mítica Atlantida, que havia afundado após um brutal cataclisma vulcânico.
A voz do estranho homem marinho, a que as lendas do mar apontavam como Neptuno e que afinal, nada mais era que um homem comum, contudo, adaptado ao meio submarino, disse-lhes que poderiam penetrar a Luz. Contudo, que não poderiam adentrá-la por completo, até ao desconhecido mundo subterrâneo subaquático, por não ser permitido a outros seres, devido a prováveis maravilhas ali existentes. De seguida, orientou-os a entrar numa câmara seca, onde o ar era um ar respirável para todos eles, pois, tinha chegado o momento que toda a Civilizacao Atlante aguardava há muito. Sendo a visita dos três, sinónimo de uma profecia e de ocasião especiais há muito previstas. Os três animais amigos entreolharam-se em tom de admiração, por afinal, não passando de simples animais marinhos, como tantos milhões que vieram antes, que existiam no presente e como os que haveriam de vir depois deles, estarem a ser alvo de tal misteriosa e particular recepção.
De repente, a câmara transformou-se em uma profusão de tons de luz muito intensos, mais ainda mais brilhante e intensa do que aquela que haviam penetrado à entrada, começando a transformar-se em um turbilhao de côres e brilhos, com tudo à volt,a a embrenhar-se numa espécie de bruma densa e opaca. Para num momento seguinte, naquilo que havia parecido uma eternidade, seus corpos marinhos não mais existirem, pelo menos, nas formas com se que haviam conhecido a si mesmos como seres vivos...
Estavam em lugar completamente diferente, no espaço, no tempo e na concepção física, naquilo que parecia ser uma manjedoura. Até suas mentes, estavam ora mais claras e tudo à volta, mais parecia um sonho surreal. Cada um deles era, na ora mágica ocasião, um ser humano distinto. A Lagosta, era agora uma linda Senhora, de olhar doce, vestida com panos de algodão e uma manto sedoso e violeta a cobrir-lhe os longos e luzídios cabelos entrançados. A Tartaruga, essa, passou a ver-se como um Homem humilde, mas de movimentos firmes e tom nobre. No centro dos dois e um pouco mais atordoado e consfuso com toda aquela transmutação ocorrida, o Caranguejo, era agora um bébé Menino, de pele leitosa e perfumada, de rostinho sereno, envolto em alguns panos de lã judaica, que o protegiam do fresco da noite que tinha como pano de fundo, a Via Láctea.
Apresentavam-se os três com outra forma, muito diferente e distinta da dos seus corpos anteriores. Nada fazia supôr que, cada um deles, continuava sendo o mesmo ser. Até o pensamento de cada um havia evoluído em complexidade e continha agora na memória. Cenas de passados nunca antes vividos, continham muitas caras de outros seres humanos e até de paisagens, que pareciam ter com cada qual deles, uma relação próxima e íntrinseca, especial...
Podiam sentir um calor de magia por todo o lado a envolvê-los, havendo outros animais que nunca antes haviam visto, à volta. À frente, encontravam-se três homens ricamente vestidos com cetins e sêdas finas, trazendo cada um nas mãos, algo que parecia serem ofertas...
No céu, uma cintilante estrela candente, brilhava com intensidade anormal, como que a assinalar algum evento histórico excepcional ...
...Acordando, olharam para um lado e para o outro e de uns para os outros, e, sómente viram a habitual areia da praia, sentiram a calmaria da leve brisa do vento e o ribombar suave das ondas do mar, que lhes batia devagarzinho nos corpos marinhos de Tartaruga, de Lagosta e de Caranguejo, que sempre haviam sido...

Estória/Conto de Natal feito em Luanda, aos 22 de Dezembro de 2009, por manuel de sousa, que como actual Presidente e em nome do Rotary Club de Luanda, em tom de desejo de Festas Felizes, o dedica a todos os Amigos, Irmãos, Companheiros e à Humanidade em geral, em Paz, Fraternidade e Harmonia com a Natureza Mãe...e com os Animais, Florestas, os Oceanos, as Terras e os Semelhantes Humanos...e com todos os Seres Existênciais do Universo...seja Mental, Espiritual e/ou Físico...

Nota do Editor: Escrito em resposta a conto enviado pelo escritor Paulo Coelho.

1 comentário:

A.Tapadinhas disse...

Também gostava de ler o conto de Paulo Coelho que originou este "Trio de Fraternidade Natalina"...

Não sei se já leste a resposta ao teu comentário no meu blogue...

O Pássaro Azul (sempre ele!) voltou a aparecer...

...na altura certa, como é hábito!

Abraço,
António