10 dezembro 2005

Mais uma carta do Agostinho

Meus Amigos

Devo dizer-vos, com toda a franqueza possíveis, que, ao contrário do que às vezes se julga, nunca pensei nada de completo, de coerente e de algum futuro, senão depois de ter reencontrado, por Jaime Cortesão e António Quadros, o chamado Culto Popular do Espírito Santo ou Culto do Divino. O que, para mim, não exclui, e por isso empreguei o reencontrar, que tenha eu próprio andado no tal século XIII, e marítimo de Algarve, pastor do Alentejo, ou já aburguesado no Pôrto, envôlto com os outros na Festa do dia de Pentecostes em que sonhava o povo português sentir-se já num Paraiso a vir, e até num Paraiso mais seguro, porquanto sem tentações. Ou então a celebrar o Culto noutros tempos mais próximos, e noutros lugares, porque houve Brasil, com os que fugiam de Portugal, e houve América do Norte, com os emigrantes, o que me leva agora a desejar que tenha o Presidente Itamar, o tão de Minas Gerais, algum pensamento de lembrança, e, por muito diferente que seja a linguagem, sejam fieis ao mesmo anseio, os de uma Presidência Casada, Bill Clinton e Dona Hilária. Ou que mais longe, pelo menos em espaço, quem sabe se na China de Deng Xaoping, se esteja avançando para a junção de duas faces, ambas visiveis e tocaveis, de um corpo perpetuamente misterioso, existente e inexistente, uma face de economia e uma face de teologia, místicas e talvez matematizaveis as duas, mas sempre com nítidos e gerais efeitos práticos. Pôsto isto assim, e acreditando num Universo sacralizavel ou de que se descobriria o Sagrado, na possibilidade de uma vida gratuita, numa defesa e desenvolvimento contínuos do Poeta que nasce em cada Criança e numa desejavel inteira liberdade de cada ser, o melhor é não o andarmos pregando, mas o pormos em prática. Como felizmente o posso fazer não ficarei com direitos de autor das Folhinhas, como não tenho ficado com os de outras publicações. São de todos os Amigos, as reproduzirão como queiram. Os tais quinhentos escudos serão só para o material e portes de quem as queira receber em casa. Sempre com muita pena de a correspondência ainda não ser gratuita. Mas, um dia, lá chegarão os CTT.

Lua Cheia de 8.3.93



P Á G I N A D A S O D E S B R E V E S




Ode breve a Mestre Sócrates
filósofo das esquinas
enquanto os grandes senhores
preferiam salas finas

era de família humilde
e decerto obediente
mais encarreirada à lógica
que treinada em dar ao dente

guerreiro foi e gostando
de muita espécie de luta
e para subir ao céu
fez escada da cicuta

o que viu como verdade
sempre a todos ensinou
mas por fim com suas manhas
a política o matou

lá está lá estará
sempre só mas não sozinho
e livre de ordenar verso
ao servidor Agostinho

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