16 abril 2006

Agostinho da Silva - Carta IX

Companheiros e Amigos

A História de Portugal, inteligente, documentada, válida e duradoura, diz que a Nação nasceu por; se fixou por; se defendeu com pinheirais e castelos sempre por; navegou por; entristeceu e se alegrou por; finalmente acabou por. Aquela História de Portugal pela qual eu vou, História sentimental e fantasiosa, meio inventada talvez em muito ponto, garante-me logo de comêço que a Nação nasceu para, se definiu para; casou para; navegou para; desanimou para e reagiu para e acabará para. Eu me explico tanto quanto posso. Nasceu para ocupar a melhor das costas, dando naturalmente para o mar, mas sobretudo para o Oceano, que permite ia a todo o lado; para aprender a bolinar; para completar o Império Romano que soberanos e legiões tinham deixado só como esboço, com uns lambiscos de Europa e uns desembarcadouros de África e umas vagas idéas de Ásia; para universalizar Direito tirado pelos romanos da Filosofia grega, como engenharia baseada no Euclides; lógica de guerrear da de pensar.; para, depois de ouvir a Isabelinha de Aragão, projectar para o mundo inteiro o entender e adorar o Divino, de ser a criança o maior dos milagres, de não se ter de ganhar a vida, o que a amesquinha, e de não haver prisões, nem as de grades, nem sobretudo, porquanto piores, as que são de dúvidas. Têm razão os saábios, que tanto respeito, que Portugal foi por; mas insisto em pensar, sem autoridade alguma, que Portugal sempre foi, sempre é e sempre será para. Obrigando-nos a todos nós, a que sejamos para, servindo-nos para tal do que somos por. Vocês não acham?


Quadrinhas de quando em quando

Mas esta vai hoje mesmo
por ser aquela que fez
São João à Lua Cheia
do Junho do nove e três

“Que me baptize o Luar
e faça de mim portento
banhado sempre na Luz
de que serei instrumento.”

2 comentários:

Anónimo disse...

Luís,
Li e reli a carta do nosso estimado Agostinho da Silva. Estou aprendendo?

Julgo que ainda não encontrei a resposta ao que procuro. O que o Agostinho da Silva definia como sendo o 5 º Império?

Mas diz Agostinho nesta Carta:"Têm razão os sábios, que tanto respeito, que Portugal foi 'por'; mas insisto em pensar, sem autoridade alguma, que Portugal sempre foi, sempre é e sempre será 'para' ".

E Agostinho explicou porque defende o Portugal "para". Argumenta que a Nação nasceu para "ocupar a melhor das costas, dando naturalmente para o mar, mas sobretudo para o Oceano, que permite ir a todo o lado; para aprender a bolinar; para completar o Império Romano que soberanos e legiões tinham deixado só como esboço, com uns lambiscos de Europa e uns desembarcadouros de África e umas vagas idéas de Ásia; para universalizar Direito tirado pelos romanos da Filosofia grega"

Esta argumentação de Agostinho tem a ver com o papel que ele atribuiu aos povos de expressão portuguesa(CPLP) na harmonização entre as nações.
Mas para que esta utopia possa ser cumprida dependemos(povos e governos) de quê?

Margarida

Anónimo disse...

Penso que a melhor maneira como o Agostinho conseguia traduzir a ideia de 5º Império, era o Império do Espírito Santo, traduzido no Culto Popular do Espírito Santo, que foi instituído em Portugal no século XIII, por D. Dinis e por Isabel de Aragão, a Rainha Santa, e que ainda hoje se pratica nalguns lugares do continente, nos Açores, no Brasil e nalgumas comunidades portuguesas dos EUA. Três princípios simples para o definir: a coroação das crianças como imperadores do mundo (a criança é um ser ainda não corrompido pelo social...); a libertação dos presos (ou das prisões internas e externas de todo o ser - a ideia de liberdade;e a gratuidade da vida (a liberdade precisa do imprevisível e, portanto, não se deve comprar, antes deve andar à solta - a diferença entre o ser e o ter).
Como chegaremos lá? À medida que cada um lá se for aproximando, os outros lá chegarão também, nem que seja por empatia...