26 junho 2006

do Brasil, Francisco G. de Amorim

PORTUGAL x HOLANDA
ATRIBULAÇÕES... NO BRASIL

Os jornais de hoje, no Brasil, noticiam a vitória de Portugal sobre a Holanda, como a vitória do Felipão!
Abaixo, letra miudinha tipo contrato de seguradora, lá vem que foi Portugal que venceu a Holanda, numa verdadeira batalha campal, por 1 x 0. Vitória sofrida, mas que mostrou o valor da turma portuguesa. Quando quer!

Ainda hoje boa parte dos pernambucanos choram não serem descendentes de holandeses! Acham até que tudo de bom que existe naquelas paragens é fruto da sua passagem por terras brasilis. Os restantes de Pernambuco e “arredores”, i. é, o Brasil quase todo, continua a sofrer do complexo do português. E assim o time que ontem venceu a Holanda não foi o de Portugal, mas de um brasileiro!

Ao mesmo tempo, para alguns, ainda está atravessada na garganta a invasão, bruta, desses flamengos ao nordeste brasileiro em 1624 e a Angola em 1641.
Para elevar a “magnificência” dessa gente, rica, há no Brasil quem proclame e escreva que os holandeses eram muito amigos dos escravos. Pudera não! Era daí que lhes vinha o dinheiro, e foi com essa “carinhosa” intenção que monopolizaram o tráfico entre Angola e as Américas, entre 1641 e 1648!

Mas os portugueses (ou os brasileiros?) não ficaram quietos. Depois de apanharem na cabeça começaram a organizar-se. No primeiro ataque, em 1624 a Salvador, na Bahia, já os holandeses saíram de rabo entre as pernas, e mais tarde, 1645, só depois que Portugal sacudiu a coroa de Castela, levaram nova e boa surra numa pequena batalha no Monte Tabocas.
Entretanto instalados em Angola desde 1641, em 1648, gentilmente, Salvador Correa de Sá mandou-os todos de volta para a terrinha deles, não tendo deixado por terras angolanas mais do que alguns descendentes, como os Van Dunem, gente aliás muito boa.

Finalmente em 1654, João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão, uma brilhante mistura de gente que ainda hoje é o retrato da composição do povo brasileiro, reunidos uns 2.500 homens, armados de qualquer coisa - a maioria de paus e forcados de madeira - correram definitivamente com os invasores, cujo exército local era de 4.500 homens, soldados.
E o Brasil voltou a ser uma unidade só. Os holandeses, os tais muito amigos dos escravos, só saíram do que lhes sobrou na América do Sul, o Suriname, em 1975, deixando o país dividido, devastado, pobre.

Este, de ontem, foi o jogo de futebol mais sofrido a que assisti no último meio século! Enfrentar a Holanda. Os holandeses começaram pela brutalidade, mas como em Guararapes, 9 contra 10 foram suficientes para acabar com a sua presença na Copa. Não foi o número nem a técnica, mas a garra.
Portugal correu com eles de Angola, do Brasil e agora da Alemanha. Boa, Portugal. Mesmo com a ajuda do Felipão, do mesmo modo que em 1654 teve na equipa brancos, mestiços e índios.

26 jun. 06

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