01 dezembro 2006


entre nós e as palavras
para mário cesariny no dia da sua morte


um dia
entre os meus dedos frios
saberei segurar um cigarro com o amor
com que deixavas refulgente no éter
a rosa imensa do poema ou da pintura
(tanto faz)

um dia – (já)
o amor que perdeste
esse homem – esse único ser que amaste
voltará para os teus braços
e todos os poemas terão valido a pena
todas as rosas respirarão ao alto
e a chuva escorrerá entre os dedos amantes
ainda possíveis

um dia
os meus dedos serão como os teus
amarelos de um fumo construtor
:o teu amor

um dia
o mar não terá navios
nem espelhos
nem mastros
nem corações desfeitos

esta noite o teu corpo gastou-se
mas não se esgotou
corre o perfume do teu olhar
como um pássaro de asas imensas
e garras ferozes – hoje
mário
poderás ver-nos de cima
e rir de tudo voando só cabeça
enquanto o corpo se aninha na pele
amorosa do homem-luz que há tanto esperavas

26 de Novembro de 2006

Frederico Mira George


http://saudadesdeantero.blogspot.com/

1 comentário:

Anónimo disse...

Amigo

Frederico Mira George (às vezs penso sobre quem será este George que também estava no nome de Agostinho da Silva), o teu poema dedicado ao Cesariny já está na Casa de Estudos que muito orgulhosa ficou por poder contar com a sua presença.

Aqui está tudo a correr, e bem, por conta do futuro que é mesmo aqui e agora.

Grande Abraço,
Luis.