30 maio 2007

A Partilha do Pão

do Brasil, Francisco G. de Amorim

Naquela noite, no fim da Ceia, o Senhor partiu o pão e disse: Tomai e comei TODOS.
Não deixou de fora nem aquele que por razões que ficarão para sempre ignoradas, o entregaria.
O Pão da Vida, ou simplesmente pão, é para ser dividido por TODOS. A ninguém pode faltar um pouco de pão, e ninguém em sã consciência consegue repousar a cabeça sabendo que cerca de dois terços da humanidade tem dificuldade, ou impossibilidade, de encontrar o pão nosso em cada dia!
A cegueira da cobiça, a ganância, deixa milhões de pães a apodrecer nos cofres de meia dúzia, enquanto alguns outros não têm mais força para levantar o braço e mendigar quaisquer migalhas.
A vergonha não é só “verde e amarela”, apesar de por estas bandas, onde plantando tudo dá, haver ainda muitos que não sabem, não querem ou não conseguem plantar para comer. O que se tem plantado muito é a planta da roubalheira. E como produz!
Diariamente assistimos a notícias que nos confrangem: milhares de desgraçados a procurarem, por meio dos maiores sacrifícios, sair de seus países de origem, a maioria em África, e entrar no que para eles é um autêntico El-Dourado: a Europa. Quase todos são apanhados pelas polícias, repatriados e aí novamente entregues a si próprios, à sua miséria, ao descaso de milionários governantes.
Vê-se Dubai a crescer num esplendor luxuriante de petróleo, ouro e roubalheira, prédios imensos a saírem do chão para as alturas, onde os banheiros têm torneiras em ouro, e fora das vistas do esplendor, em míseras camaratas, os operários esfaimados vindos do Paquistão, e outras vizinhanças, se acumulam, tendo que preparar a sua única refeição diária, porque trabalham 12 horas seguidas, para receberem no fim do mês € 110. Espetáculo incessante em todas as longitudes do planeta, onde reina a mentira e a sem vergonhice.
Agora um dos ministros do nosso (des)governo foi apanhado com a boca na botija – botijinha de $ 100.000, - para liberar umas verbas públicas para a canalhada. Pressionado, teve que pedir demissão do cargo, clamando-se inocente e... pobre, que nem dinheiro tem para pagar a um advogado que o defenda de semelhante calúnia! É o máximo da desfaçatez, sabendo que o Estado tem obrigação de lhe arranjar um advogado público se ele provar a sua penúria.
Ao mesmo tempo o presidente do senado federal (minúsculas!) é denunciado, e provado, que tem inúmeros bens, propriedades e outros, em nome de terceiros porque não tem como justificar tamanha fortuna quem há trinta anos não faz outra coisa além de política. Chora e grita por sua lisura e, quem sabe, ainda acaba na presidência do país!
O pão não é para todos, nem sequer o Pão da Vida. A Terra terá uns 4,5 bilhões de anos, (cerca de um dia brahmânico, igual a 4,32 bilhões de anos) e o homem, mesmo incluindo os pré sapiens somente 0,1% deste tempo. Dizem os hindus que estamos a viver a era do Kaly-Yuga, a era das desavenças, que dura 432.000 anos, a quarta e última de uma Maha-Yuga, igual a dez Kaly-Yuga, dos quais ainda só se passaram 5 mil.
Se a velha e grande sabedoria hindu estiver certa, quanto tempo ainda a humanidade vai esperar, para que com o pão nosso de cada dia o Tomai e comei TODOS seja a Verdade?

28 mai. 07

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