Segundo notícia do "Diário de Notícias" desta segunda-feira, dia 20, um grupo de galegos, preocupado com o avanço da língua e da cultura castelhanas, defende a recepção das televisões portuguesas na Galiza, em sinal aberto, «o mais rápido possível», para equilibrar essa situação. A proposta é apresentada amanhã, em Braga, em nome da preservação do idioma desta região vizinha de Porugal.
(texto enviado por Margarida Castro
Dialogos_Lusofonos@yahoogrupos.com.br )
22 março 2006
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3 comentários:
Estranhas as dificuldades que a Espanha tem colocado aos galegos para terem acesso à televisão portuguesa!? Porquê'
Mas conheçam a
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Muito bom
A resposta óbvia: Porque assim a colonização linguística faz-se muito mais facilmente.
Mas decerto haverão outras respostas que deste ângulo de vista eu não vislumbro muito bem. Não acham?
Então acompanhemos a Entrevista na Página Galega da Língua-PGL www.agal-gz.org/ ao Prof. António Gil Hernández e a sua lúcida e clara visão da lingua na Galiza.
Talvez assim se possa compreender o que as associações galegas pela língua conseguiram frente À pressão da castelhanização.
Entrevista ao Prof. Gil Hernández no PGL
III Seminário de Políticas Linguísticas, a decorrer de 26 a 28 de Março, obra do professor António Gil Hernández e a análise da situação sociolinguística galega actual
PGL.- É uma das pessoas chave do impusionamento, em seu dia, do
reintegracionismo organizado. Co-fundador da AGAL, o seu muito
trabalho dedicado a defesa, promoção e luta pela dignidade do
português da Galiza serão alvo de estudo e análise e divulgação no
III Seminário de Políticas Linguísticas, agendado de 26 a 28 de
Março na Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Santiago
e organizado pela Associação Amizade Galiza-Portugal. Do PGL
quisemos conhecer em primeira mão alguma das opiniões do Prof. Gil
Hernández, que amavelmente nos atendeu.
[+...]
PERGUNTA: Após três decadas de trabalho sociolinguístico na Galiza,
resta-lhe um algo por fazer ou por oferecer a respeito?
RESPOSTA: Permito-me avisar que o meu trabalho não é estritamente
sociolinguístico nem propriamente sociológico; talvez nem seja
trabalho... Eu fui fazendo nos âmbitos do reintegracionismo um jeito
de atividades diversas que nem sei como denominar: de IDEAÇÃO?, de
ORGANIZAÇÃO? de AÇÃO? Pode ser. Na realidade os meus textos contêm
uma mistura desses três aspetos, nem sempre equilibrada. Ousaria
afirmar que todos eles se ajustam ao que digo na nota inicial do
livro Temas de Linguística Política:
Apenas me aventuro a comentar faces da situação idiomática galega
antes por mim ignoradas (ou quase). Exponho-as com o intuito de que
outros, cientistas, sábios ou teorizadores, investiguem (e
completem) dados, discutam teorias (quase nem esboçadas neste
texto), compartilhem (ou não) opiniões e o que houver de saberes:
destarte talvez logrem fazer ciência a partir do que nem alcança o
rango de experiência arrazoada.
Bom, ao caso: Acho que não me «resta» muito a fazer (depois do
feito); talvez me «some» e me «sume» demais. Quero dizer que (pela
minha «culpa») estou metido aparentemente num beco sem saída, num
enguedelho fatal que, como a droga, cria dependência, embora, a teor
da «racionalidade» nacionalista espanhola, careça de futuro.
Contudo, é justamente isso que o torna mais aliciante. Pelo menos
para mim.
Seja como for, o verso inicial do poema «Penélope», de Díaz Castro,
parece ser, para grande parte dos notáveis galegos e dos menos
notáveis, o guia das suas atuações: «Um passo adiante e dous atrás,
Galiza.» Essa, para alguns, teima, mas para mim incitamento e
alicerce de racionalização, acompanha-se doutra teima-incitamento,
que se compendia no consenso arredor de silêncios sobre pessoas e,
mormente, sobre assuntos vitais, que parecem envolver esta Terra.
PERG.: A AGAL comemora neste 2006 25 anos da sua criação. O que é o
mais gratificante para você nos 25 anos de reintegracionismo
organizado?
RESP.: A pergunta, como todas, é inocente, mas a resposta não o
será. Vejamos. Enquanto co-fundador [sic] da AGAL, vou aos cornos do
touro como forcado, forçado, e respondo:
1.- Satisfaz-me a difusão do reintegracionismo. Tenho na mente
protagonistas certos: Pessoas galegas, nadas nesta Terra ou noutras,
a julgarem necessário que a Galiza alcance existência digna, como
conjunto humano, como sociedade organizada. Um dos meios para o
conseguir, a meu ver elementar, é a língua, mas como no mundo das
ciências sociais e da política se entende (e funciona): como LÍNGUA
NACIONAL.
Cada vez mais pessoas, acho, entendem que a dignidade da Galiza
alicerça na dignificação da sua língua e da correlativa rede
comunicacional, fazendo com que aquela se torne em LÍNGUA NACIONAL,
a começar pela forma (a ultrapasar a ortografia simples).
2.- Porém, não me satisfaz o facto de a concepção reintegracionista,
lusofónica, ainda carecer de práticas extensas. De atrás venho
dizendo que, se na Galiza houvesse vinte ou trinta pessoas
(notáveis) que praticassem consequentemente a Lusofonia, já estaria
refreada a «guerra normativa» (que lhe dizem). Portanto, não me
agrada que os notáveis (essas possíveis trinta pessoas...) não
queiram aproveitar o facto de os países da Lusofonia terem admitido
a Galiza nos ACORDOS do Rio (1986) e de Lisboa (1990) a meio da
representação de Organizações Não Governamentais. (E não só porque
eu estivesse no de Lisboa...)
PERG.: Nos últimos anos, no entanto, deu a baixa da AGAL. O que é
que não gosta da actual linha dessa associação?
RESP.: Antes de mais nada hei-de dizer que não dei nenhum passo para
me retirar da AGAL. Sim reconheço que, como já o tenho explicado em
mensagens ao PGL, estou longe bastante dos atuais critérios do
Conselho e da Comissom Linguística, de que fiz parte.
Não discuto nem discutirei atividades realizadas ou por realizar;
não são essas as que me afastam da AGAL.
Porém, discuto o encravamento, esse ficar detido, como se algum Ente
paralisasse a Associaçom e a impedisse aproximar-se do português
comum, sob o pretexto de não ser forma adequada às falas galegas.
Discuto-o porque os reticentes a essa aproximação (como hispanófonos
que também são) têm constância da propriedade do castelhano comum
relativamente aos diversos e mesmo divergentes castelhanos que pelo
mundo adiante há.
Quando bastantes membros da AGAL singularmente deram o passo às
formas comuns e, mormente, quando na Lusofonia está a avançar,
apesar de tudo, a assunção do Acordo de Lisboa, que necessitadamente
será cumprido num prazo relativamente curto, carece de todo o
sentido esse teimar em construir uma norma gráfica galega, face (ou
contra) a portuguesa e brasileira.
A meu ver, o trabalho dos notáveis galegos lusófonos deve visar dous
pontos, fulcrais:
a) A ORTOFONIA galega. Acho que não é objetivo menor, sobretudo
porque o isolacionismo imperante (em que estamos envolvidos) está
a «fixar» uma fonia nada galega, descerradamente castelhana, mas
castelhana de Castela, nem sequer andaluza ou canária, que em grande
medida desvirtuariam menos o sotaque galego (refiro-me ao «sesseio»
e à pronúncia apical do S, como é habitual na Costa da Morte). Seja
dito pelo direito, sem reviravoltas.
b) O LÉXICO galego (a incluir, por exemplo, preferências sufixais).
Bastaria tomar como base e ponto de partida os dicionários Estraviz
(galego), Houaiss (brasileiro) e Malaca (português).
PERG.: Por sinal, vê hipôtese de uma [necessária] unidade de acção
do movimento reintegracionista galego? É possível?
RESP.: Essa unidade foi conseguida em diferentes ocasiões. Deveras a
unidade de ação é necessária, como necessária é a diversificação de
atividades: Não podem nem devem fazer todos o mesmo; sobejam mais
explicações, acho. A unidade de ação deve evidenciar-se nas ações ad
extra, para fora da «Comunidad Autónoma de Galicia», face à
Galiza «exterior» espanhola (as Astúrias, o Berzo) e face à «Galiza
portuguesa», face ao Brasil e os PALOPes e, mormente, face às
instituições, como as «Cortes» espanholas ou o Parlamento europeu.
Todavia, há uma unidade prévia, ainda a conseguir, como apontei
acima: Deve ser ultrapassado o polimorfismo na escrita, que deve ser
comum. Hoje constituir uma norma gráfica galega, simétrica da
portuguesa e da brasileira (segundo cá costuma presumir-se) nem para
dentro nem para fora tem sentido, porque essas são, apesar de tudo,
variedades da norma gráfica comum, enquanto a norma gráfica galega
que a AGAL promove não pode ser considerada (a meu ver) simples
variedade de aquelas.
Insisto: Faça a Comissom Linguística da AGAL o seu labor, depois de
assumir que a Galiza fez parte nos Acordos do Rio e de Lisboa, e
forneça ao reintegracionismo todo a ORTOFONIA e o LÉXICO galegos
dentro da norma gráfica comum.
Ainda mais: Considero necessário constituir uma ACADEMIA GALEGA DA
LÍNGUA PORTUGESA, velha proposta e aspiração do amigo Martinho, que
o «Reino de España» dificilmente permitirá, mas que na República
portuguesa pode ser legalizada com relativa facilidade. O
reintegracionismo galego teria então uma referência comum, para além
de associações e mesmo de atividades diversificadas, que
contribuiria eficazmente a criar a consciência de universalidade, de
que tanto precisam a Galiza e os seus notáveis.
PERG.: Montero Santalha, de um par de anos para cá, está a divulgar
um dado esmagador: Nos dias de hoje apenas 5,3% das crianças se
instalam em galego (ou português da Galiza). Quais as causas para
termos chegado a essa situação e quais os remédios para revertê-la?
RESP.: Curiosa e nada paradoxalmente essas causas (e motivações) são
re-conhecidas e até compartilhadas por isolacionistas e não
isolacionistas. Mas que é o que acontece? Uns refugiam-se sob as
instituições espanholas, depois de as declararem «normalizadoras»
natas do «galego normativo». Outros (a grande maioria), perante tal
razoamento «democrático», caem num estado de catatonia social e
idiomática. Por fim bastantes progredimos como podemos... e como nos
deixam todos eles.
Opino que do «Reino de España» apenas deve esperar-se (e exigir-se)
que, se for estado democrático, cumpra o «Título I» da sua
Constitución (1978) e não estorve aos cidadãos espanhóis (que somos)
o exercício dos direitos fundamentais. Dos artigos desse Título,
acho que os fundamentais são o 10.º § 2 e o 14.º. Vou permitir-me
citá-los:
«Las normas relativas a los derechos fundamentales y a las
libertades que la Constitución reconoce se interpretarán de
conformidad con la Declaración Universal de Derechos Humanos y los
tratados y acuerdos internacionales sobre las mismas materias
ratificados por España» e «Los españoles son iguales ante la ley,
sin que pueda prevalecer discriminación alguna por razón de
nacimiento, raza, sexo, religión, opinión o cualquier otra condición
o circunstancia personal o social.»
PERG.: Há esperança, porém, para a sobrevivência da língua na
Galiza? O reintegracionismo, como proposta e como movimento, pode
ainda ser peça-chave?
RESP.: Se dissesse que não há esperança, seria o mais miserável dos
humanos (apesar de tudo, existem castelhanos humanos...). Há
esperança enquanto há vida. Contudo, para responder a pergunta,
acudo a um critério prático, que enuncio assim:
«Enquanto o «Reino de España» dedique dinheiros e entidades suas
(RAGa, ILGa, JdGa, ...) a «normalizar» o «galego normativo», há
esperança de o Galego ou português galego poder alcançar, contra
esses dinheiros e entidades, a normalidade, prévia à naturalização
dos novos utentes.»
Por outras palavras: Quando não haja possibilidade de recuo na
incorporação de utentes de Galego —falantes e/ou escreventes—, desde
esse momento o «Reino de España» deixará de executar [sic]
ações «normalizadoras» do seu «galego normativo».
Aduzirá «razões» «democráticas», que mais ou menos soarão: «Como la
mayoría ya no quiere hablar gallego, no podemos obligar a que se use
masivamente. Por lo tanto, dejamos de dar subvenciones y otras
ayudas.»
De facto assim vem procedendo: Quando nega subsídios porque não é
utilizado o «galego normativo». Quando na distribuição de «axudas»
não atende à qualidade do texto, mas à obediente fugida de «todo o
alleo ó galego». Quando são alternativamente premiados os bons
servidores do Reino (o júri de hoje é amanhã objeto de prémio), etc.
Aliás, passaram a reduzir o uso de «galego normativo» nos média ou a
enredá-lo com a «copla española» e com visitantes egrégios
hispanófonos... É certo que por vezes aparece nas ondas algum
lusófono, mas quando, quanto e em que condições?
Seja como for, o Reino está a dedicar dinheiros excessivos e muitas
entidades (com gentes que recebem os dinheiros) a «normalizar»
o «galego normativo»... Portanto, como acima digo, há esperança para
o português galego, para a Lusofonia galaica.
Qual é o papel do reintegracionismo em todo esse processo? Básico
e «altúrico». Se os reintegracionistas não tivessem agido e agitado
na Galiza, haveria tempo que o processo aniquilador do português
galego (e do «galego normativo»!) estaria muito avançado, muito mais
avançado do que hoje está. O reintegracionismo, acho, é a base e a
altura do processo normalizador da sociedade galega e do consequente
processo naturalizador da sua LÍNGUA NACIONAL.
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